05 março 2007

Vai levar um peixe ou um livro?

Reportagem retirada do site do O Estado de São Paulo. Vale a pena ler!

Pescador separou parte de sua barraca na feira livre de Pirapora para expor livros, que são emprestados à população

Eduardo Kattah, ENVIADO ESPECIAL, PIRAPORA (MG)

Nos últimos meses, o pescador Leonardo da Piedade Diniz Filho, de 40 anos, viu sua clientela crescer e se diversificar na feira livre de Pirapora, cidade às margens do Rio São Francisco, no norte de Minas Gerais. Os freqüentadores estão sendo atraídos à barraca de Léo do Peixe, como é conhecido, não só pelos dourados, surubins e curimatãs como também pela inusitada oferta de livros. O pescador virou a principal atração da feira dominical ao criar o Clube da Leitura, em fevereiro do ano passado.

O projeto, que nasceu tímido, com o objetivo de entreter crianças enquanto os pais compram, ganhou corpo e já envolve a comunidade local, a exemplo de outros atos voluntários e criativos de incentivo à leitura que surgiram no País nos últimos anos.

Em pouco tempo, a partir de doações, Léo do Peixe já acumula um acervo de 8 mil exemplares, entre livros, revistas e gibis, que são emprestados gratuitamente. Para atender à demanda, precisou improvisar uma biblioteca nos fundos de sua casa, que também funciona como peixaria.

Recentemente, a experiência do pescador ganhou reconhecimento nacional e foi finalista do prêmio VivaLeitura, com patrocínio da Fundação Santillana, da Espanha, e promoção dos ministérios da Educação e da Cultura e da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura.

A vencedora em sua categoria foi uma professora do Maranhão. Alda Beraldo criou o projeto Jegue-Livro. A cada 15 dias, os livros da Casa do Professor, instituição ligada à Secretaria da Educação da cidade de Alto Alegre do Pindaré, são levados no lombo dos jegues à zona rural.

SOB A LONA

De um espaço improvisado embaixo de uma lona, Léo do Peixe conta agora com uma barraquinha própria para o Clube da Leitura. Todos os domingos ele enche duas estantes. Em média são emprestados 50 exemplares.

Durante a semana o movimento é em sua casa. Sem cerimônia, os moradores adentram o local para buscar ou entregar um livro. Os clientes da peixaria, por sua vez, são sempre incentivados a levar um exemplar.

“Hoje eu vendo menos peixe. O pessoal acha que meu negócio agora é livro”, conta o pescador. “Já fui até chamado de doido”, lembra.

Recentemente, o radialista esportivo Josival Alves, de 36 anos, garimpava uma obra sobre futebol. Ele relata que, antes de conhecer o Clube da Leitura, não freqüentava a biblioteca pública de Pirapora. “Quando vi na feira, aí eu me animei”, diz. “Quem lê está aprendendo o que há de mais importante na vida. Sem a leitura não somos nada.”

Embora tenha crescido em meio aos livros - sua mãe era professora -, Léo do Peixe garante que sempre foi um “aluno medíocre”. A leitura se tornou um hábito somente quando passou a incentivar os filhos, Gabriel, de 7 anos, e Isabela, de 4. “Não adianta mandar fazer uma coisa se você não dá o exemplo. E hoje eu sou um devorador de livros.”

O pescador - que chegou a cursar Ciências Contábeis em uma faculdade particular, mas não concluiu - lista o educador pernambucano Paulo Freire, o escritor baiano Jorge Amado e o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade como seus autores prediletos.

Comentário: Depois dizem que o povo não gosta de ler... é só colocar um preço acessível ou disponibilizar gratuitamente que o povo aparece!

Um comentário:

Rafael Maia disse...

Quem diz que o povo não gosta de ler são as elites. Afinal povo burro é povo dócil.
O povo brasileiro tem uma cultura impresionante. Prova disso é a literatura de cordel.

Muito obrigado pela visita em meu blog.

bjo grande